Nós
Em dias em que sinto tristeza, preocupação, medo, ressentimento, é-me sempre acrescentado mais um sentimento: o da frustração.
Penso automaticamente “caramba, tu és tão optimista, já sabes e acreditas que não vale a pena sentires isso, que isso te afasta da tua inerente sabedoria e divindade, porque raio é que estás assim?”. Pois, mas ele há dias que o sinto. É um facto.
Habituada a pensar as e nas coisas como estou, a maioria das vezes consigo identificar a/s causa/s de tais sentimentos. Ok. Depois claro que começo a pensar: “mas isso faz mesmo sentido, vale a pena estares assim?”. E respondo-me “não”. Está bem, e agora? Pois.
Refiro-me a estados pontuais destes sentimentos. Quando eles são alongados no tempo, constantes e dolorosamente profundos, aí precisamos de ajuda, seja de quem ou do que for (para umas pessoas será o psicólogo, para outras começar a fazer Yoga, ou ir ao psiquiatra, ou ….). Mas não é destes momentos a que me refiro. É aos leves, mas não menos maçadores!
Tentei analisar e dissecar as razões, de modo a constatar a sua ausência de sentido – não resultou! Ajuda, por vezes, mas o nó no estômago continua presente. Às vezes ouvia música calminha, a chamada Zen, mas havia alturas em que ainda me irritava mais. Outras alturas, pensava passear ao livre, aproveitar a natureza, … Não, nessas alturas é um facto que as cores das árvores, mesmo as mais verdinhas, ficam meio acinzentadas!
Claro que estas coisas todas podem, em diferentes alturas, acalmar o que sentimos. Mas para mim não têm sido suficientemente eficazes.
Então descobri o que nesta fase da minha vida mais resulta comigo: simplesmente aceitar que estou assim, e nem sequer pensar muito nisso.
Levanto-me, apercebo-me do que estou a sentir, e vou caminhando ao longo do meu dia sem falar muito, nem comigo nem com os outros. E cada vez que o estômago se aperta, em vez de tentar contrariar isso (seja a dizer que não vale a pena, seja a tentar pensar noutra coisa para disfarçar, seja fazer “trálalala não te estou a ver, pois não”- naquela melodia embirrante que usávamos em miúdos), aceito. E penso: “ok, estás aí, já te vi, estou a sentir-te, aceito-te”. E depois de algum tempo de o ter começado a fazer, há alturas que consigo pensar “aceito-te e gosto de ti como parte de mim que és”.
Às vezes há a tendência para se achar que os calminhos, ou os “espirituais” (termo com o qual embirro um bocado, porque espirituais somos todos, desde que nascemos!) são sempre calminhos. Eu não sou. Na grande maioria das vezes sou, e é essa a essência que identifico como minha. Mas há momentos em que sinto o que já vos disse: tristeza, medo, preocupação, saudades. E, para mim, eles têm de ser aceites. Contrariá-los só dificulta, só os faz persistir. Como alguém disse um dia: “Ao que mais resistes, mais persistes”.
Dizem vários autores, com muitos estudos e prática nestas coisas, que onde há alegria há tristeza, onde há saúde há doença, onde há guerra há paz, … A existência de algo implica sempre a existência do seu contrário. Ora vivermos em estados de alegria tem sempre por trás os estados de tristeza, senão a alegria não existiria. Assim sendo, o que nos traz verdadeira paz é a ausência de expectativa, de julgamento; é o não atribuímos a alegria a nada externo, só a termos em nós, como estado de paz.
Enfim, isto é um sumário, o meu sumário. Mas o que quero partilhar é que eu não estou nessa fase. Faz-me sentido, mas não é assim que vivo e Sou. Por isso mesmo, resta-me aceitar e agradecer todos os meus estados d’Alma, porque fazem parte de mim. Reconhecê-los, identificá-los, dar-lhes espaço e deixá-los estar. Eles hão-de ir ao seu caminho, como acontece com tudo, com todos.
Comigo tem resultado. O aceitar esses sentimentos, pelo menos, evita que outros se imponham: a zanga comigo por me sentir assim, a frustração, a irritação, …, que muitas vezes levam a chatices com outras pessoas, que nada têm a ver com isso!
A nossa Humanidade também é bonita por causa disso! Mesmo com algumas dores de estômago! Afinal, não existirá o nosso estômago também para isso?
Joana Pires
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