Os brinquedos e as brincadeiras
No último texto falei sobre o brincar, e disse que mais tarde iria falar concretamente nas brincadeiras e nos brinquedos. Cá estou eu.
Como já disse, brincar é uma das coisas que considero mais importantes. Porque nos permite (e às crianças) uma série de coisas (sobretudo nós, psicólogos, gostamos de falar na criatividade, e jogo simbólico, e aprendizagem das regras, e normas, e…), mas, Muito Principalmente, porque é um movimento natural, espontâneo e inato de todas as crianças. Independentemente da sua cultura, da sua nacionalidade, da sua condição socioeconómica. Assim sendo, dizendo ou não os senhores que estudam que isto é uma coisa importante, é-o certamente!
Educar uma criança, e falo agora no sentido familiar/parental do termo, é, para mim, um constante exercício de “encaixe”. Eles crescem, nós vamos mudando; os desafios que nos trazem hoje não são os mesmos de ontem; hoje é-nos claro que é assim; amanhã já qualquer coisa nos pode suscitar outro movimento. Por isso é que falo tanto em termos a vontade e o espaço, internos, de querermos pensar as/nas coisas.
Sobre os brinquedos, e a televisão, e os computadores…
Quanto aos primeiros, existe imensa discussão, sobre várias coisas: a sua segurança, se têm toxinas da China, se se adequam à idade, se… O que eu acho que mais ajuda, neste caso, é o bom senso (para vermos se é perigoso ou não, independentemente do que vem na caixa) e o pensarmos na criança (se vemos aquela criança concreta a ter prazer em brincar com aquele brinquedo concreto). Não é fácil, eu sei, mas é um desafio engraçado.
Os brinquedos já foram quase todos inventados. O que eu mais sinto falta é de brinquedos assim não tão perfeitos, e tão prontos a usar, e tão já tão pensados! (a redundância foi propositada). E de espadas! (e aqui introduzo outro motivo de discussão… As ditas “armas”).
Partilho convosco que, há uns anos, era eu na altura antipatizante das ditas “armas” para os miúdos, e estava a frequentar uma formação de psicologia só sobre crianças. Uma das formadoras, um dia, a propósito deste tema, diz: “claro que as espadas são importantes. Se não como é que os miúdos lutam contra os monstros e maus que sentem existir?” E rendi-me, no momento.
Às pistolas não lhes acho graça. São objectos que se aperta no gatilho e podem rapidamente matar o outro. As espadas não. Não implicam matar alguém, para começar; exigem engenho e arte de movimento; exigem que se conheça as capacidades físicas que se tem; e dá muito bem para afugentar os maus! Porque os miúdos sentem-nos! Seja lá isso o que “os” for! Há coisas na vida que os assustam. Nós, pais e educadores, somos fantásticos a protegê-los. Mas e eles a eles próprios? Pedimos-lhes que conversem?! Humm…. Ná. Uma espada dá um jeitão!
E um destes dias andei à procura (não uma procura exaustiva, confesso!) e entre milhares de brinquedos, nem uma! (Pode ser que entretanto o Sr. Belmiro e seus semelhantes me leiam, e encham os hipermercados de espadas!)
Quanto à televisão e aos jogos. Eu acho que ambos têm funções importantes (lá está a chata da psicóloga a falar das funções, quando o que mais interessa é que os miúdos gostam e pronto!). A televisão, neste caso os desenhos animados, cuja escolha varia de pais para pais, pode ser muito educativa. Eu gosto imenso do Ruca, para cerca dos 2/4 anos. Acho engraçado, realista, e a “perfeição” dos pais inspira-me. Porque constato que seria mesmo bom, para todos, se em todos os momentos se conseguisse ter aquela calma. E do Pocoyo, para os mais pequenos.; a Vila-Moleza, para os grandes e pequenos. E há mais, certamente, e cada um de nós tem as suas preferências.
Ao ver televisão, não só os miúdos aprendem, como também descansam. Tal como nós, que descansamos a ver (ou a olhar) televisão. Mas nós temos mais alternativas do que eles, por sermos mais crescidos: podemos estar simplesmente em silêncio, ou ouvir música, ou ler um livro. Para eles, ler um livro ou ouvir música implica acção física. Ver televisão não. Na minha opinião, cerca de 20 minutos diários de televisão é ajustado. Algum desenho animado que eles gostem especialmente, porque não? A mesma coisa com o computador. Pode ser muito útil e prazeroso se não for em excesso. Como tudo, de facto.
Estamos a entrar numa época em que os miúdos (alguns) ficam “intoxicados” de brinquedos. Acho que é mesmo este o termo. Qual a solução? A minha é deixar estar. É aceitar que intoxica, mas que é assim. Felizmente que há miúdos que recebem muitas prendas, porque têm muitos amigos dos pais, e deles próprios, e família, e… Escolho ver o lado bom da dita “intoxicação”, porque tem. E faz parte, mesmo, da mesma forma que se faz árvore de Natal, e há luzes por todo o lado, e se compram prendas, e se recebe… Tem um lado bom, mesmo. Ainda estou a aprender viver neste lado. Ainda foram mais os anos em que me custava do que dá prazer. Mas hei-de chegar à altura em que é ao contrário!
E compremos brinquedos a nós! Seja o que for!
Nesta altura, e em todos os meses, mimemo-nos com qualquer coisa! E não tem a ver com o custo da coisa, tem a ver com a intenção de nos mimarmos, que é uma forma de nos dizermos “Gosto de ti!”! Da mesma forma que o fazemos quando compramos mimos aos outros!
Joana Pires
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