Os Afectos
Falo muitas vezes disto nos meus textos, quase sempre.
Aliás, até posso dizer que os meus textos têm isto em todas as palavras. É por isso que escrevo.
Os afectos, o amor, como lhe queiramos chamar, são as coisas mais permanentes, mais intrincadas em nós. Sejam os ditos bons, sejam os ditos maus.
Toda a nossa memória traz um rasto de afecto, quando a memória não é simplesmente um afecto, por excelência. Todos os pormenores da situação, o porquê, onde e como são apenas enquadramentos para aquilo que fica bem guardado em nós: o que sentimos, como nos sentimos. É com isso que andamos às voltas tantas vezes, com apertos que não sabemos de onde vêm; com tentativas de encontro de racionais justificações para coisas que simplesmente nos mordiscam a Alma.
O mesmo acontece com os afectos que nos fazem não parar de rir, ou de sorrir. Naquelas pessoas de quem gostamos tanto e nem sabemos exactamente porquê. Aquele sentimento de tão grandiosa tranquilidade, que surge sem sabermos como, e que nos foge também sem sabermos como.
E assim somos nós, malas gigantes de afectos!
Sim, malas, porque avançamos no tempo, e nas pessoas, e nas situações, e em nós. E vamos guardando os afectos, quer os queiramos quer não. Sejam grandes, pequenos, mais nítidos ou mais apagados, eles São nós!
No outro dia olhei-me a pensar: os afectos acabam? Quando terminamos uma relação, seja ela de que natureza for, os afectos acabam?
E concluí que não, jamais. Acredito que uma vez nascido o afecto, o Amor, o único caminho que lhe é passível de acontecer é a transformação.
Quando fechamos os olhos e pensamos num ex-namorado, ou ex-marido, ou ex-marida, ou ex-amiga, ou ex-colega… O afecto está lá, sempre. Sorrimos ou pressionamos os cantos dos lábios, aperta-nos o coração ou sentimos tranquilidade, sentimos saudade ou alívio por já não o/a termos perto de nós. Mas sentimos qualquer coisa, nem que seja indiferença. E a indiferença é uma forma de afecto, porque é também habitante do nosso universo afectivo.
Então… Que fazer com tantos afectos? Hum… Deixá-los estar. Aceitá-los como partes de nós. Aceitar os afectos que temos pelas pessoas, ou pelas coisas, não significa aceitar as pessoas ou as coisas em si mesmas. Não. É simplesmente (ou dificilmente!) aceitarmos o espaço em nós de que o afecto se mantém, apenas tem outra configuração (amava uma grande amiga; agora tenho-lhe saudades).
Isto dos afectos, do amor, é uma das características mais marcantes de nós enquanto seres. E, para mim, é a maior bênção e o maior desafio que temos enquanto vivermos! Os afectos que nos habitam…
Pelos outros, mas sobretudo por nós mesmos!
Joana Pires
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Que bom ter-vos de volta. Os textos e os afectos. Com amor e afecto, Marta
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