Olá a todos,
Sei que alguns de vós me conhecem, outros já viram a minha foto, mas para quem não sabe eu sou o Baltazar, um belo exemplar canino, já com uns respeitáveis 11 anos!
Hoje resolvi falar-vos! A minha história é igual à de tantos outros amigos canídeos, difere de uns numas coisas e de outros noutras!
Não tenho registo do meu nascimento, é verdade, eu sou um belo cão rafeiro. Apenas sei que vivia em casa de umas pessoas que, subitamente descobriram que o miúdo lá de casa, de quem por acaso gostava bastante e me dava bollycaos, era alérgico a mim (!?!?!). Por sorte, a minha actual "dona" andava à procura de um cão para a minha tia (sua irmã), telefonou para a LPDA (Liga Portuguesa dos Direitos dos Animais) e deram-lhe o contacto da minha casa da época.
A Ana e o Rui lá foram buscar-me. Quando lá chegaram eu, que não sabia de nada, mas que de mal-criado não tenho nada e aprendi desde cedo a ser um bom anfitrião, fui recebê-los aos saltos, como convém a qualquer cão que se preze! Estranhei quando me trouxeram! Mais estranho foi quando cheguei a casa deles! É que, eu tinha 6 meses, e eles deram-me comida especial para cães bebés, eu nem sabia que isso existia, lá na outra casa davam-me uma ração para cão adulto gigante, e logo a mim que tenho problemas de dentição... Também me levaram ao veterinário, sítio onde eu nunca tinha ido e, confesso-vos, não acho graça nenhuma, mas se eles me levam lá devem saber o que fazem!
A bem da verdade, devo-vos confessar que a Ana já não me levou para a minha tia Joana, não resistiu ao meu charme canino e lá conseguiu convencer o Rui a ficar comigo! Não houve problema, a minha tia acabou por ficar com o meu primo Cocas que tinha sido atropelado e precisava mesmo de uma família!
Os meus donos só não sabiam que eu tinha um pequeno, grande, desafio a ultrapassar... Eu sofria de ansiedade de separação!!! Eu ficava a ladrar e a uivar cada vez que eles saíam de casa!!! Eu sofria tanto, mas tanto que ninguém imagina! A Ana ligou para a LPDA, para conhecer melhor a minha história, foi quando lhe disseram que esta já era a minha quarta casa! É verdade, amigos! Ninguém me queria e eu sabia disso! Achei que a Ana e o Rui me poderiam descartar facilmente como os outros o fizeram... Ainda não os conhecia bem! Numa das casas, depois de eu lá ter ficado umas semanas a mãe daquela dona deu-lhe um Yorkshire Terrier, e assim sendo ela já não precisava de mim para nada! Nesta última foi a "alergia" do miúdo... Acho que nesta situação o mais prejudicado foi o miúdo, coitado, não só ficou sem um amigo, como teve de continuar a viver com aquelas pessoas!
Bem, voltando à minha história! A Ana e o Rui começaram a receber queixas dos vizinhos! Mas não se descartaram de mim, nem pensar! Eles levaram-me ao veterinário onde fui esterilizado! Disseram-lhes que podia ajudar, mas não foi por isso que me esterilizaram, eles acham, e eu também que já há demasiados cães no mundo a sofrer, não vale a pena pôr ao mundo mais uns quantos! Continuei com o desespero de os ver sair de casa! Levaram-me a uma veterinária especialista em comportamento animal... Tomei uns comprimidos e umas coisas e... nada!!!
Certo dia, 8 meses após estar lá em casa, a Ana recebeu um e-mail com uma história muito triste de uma cadela sem dono! Ela estava muito mal de saúde, quase a morrer! A Ana e o Rui tiveram pena dela e foram-na buscar!!! Acabou-se o meu sossego, mas também o meu desespero em ficar sozinho em casa! Deixei de ficar sozinho em casa! Lá estava a melga da Mafalda a fazer-me cãopanhia! Acabei com a gritaria e os vizinhos não mais se queixaram! Quero dizer, uns queixam-se da nossa presença mas isso é porque são mal amados e não sabem o quanto é bom ter um cão!
Um ano e uns meses depois apareceu uma "coisa" lá em casa! Não era um cão, nem um gato, eu daria logo pela presença de um gato!!! Era uma "coisa" que eu, na altura, não consegui perceber o que era! Apanhei o maior susto da minha vida quando, após uns 2 dias sem ver a Ana, estava eu feliz de a ver, aos saltos e a cumprimentá-la efusivamente, como só eu sei fazer, e a "coisa" emite um som... Um som alto e estridente! Que susto!! Que susto!! Que susto!! Ia morrendo!
De dentro de uma espécie de mala, mas rígida, que a Ana trouxe com ela, uma coisa de plástico azul escuro à qual eu ainda não tinha prestado a devida atenção pois estava a cumprimentar a Ana, sai um barulho! Um guincho! E eu: Pára tudo!!! Céus, o que é isto?! - Espreitei, claro está! E vejo, uma espécie de pessoa mas em ponto pequeno! Com um cheiro que eu não conhecia! Eles diziam que era um bebé, chamaram-lhe minha filha! Pois tenho-vos a dizer que não achei muita graça! Nem muita nem pouca, pura e simplesmente aquilo não brincava comigo, não me fazia festas, não servia para nada, basicamente! Já a minha irmã Mafalda adorou ter aquele espécime lá em casa! Eu por mim, sempre que eles saiam de casa acreditava sempre que iam devolver aquela coisa, nunca aconteceu! Hoje, quase 10 anos depois já percebi que não a devolverão, e adoro-a! É que aquela coisa transformou-se numa miúda mesmo gira que brinca comigo, dá-me festas e é muito minha amiga!
À segunda já não me apanharam desprevenido, quando a Ana, passados uns dias sem estar em casa, voltou com aquela espécie de mala de plástico rígido e azul, eu vi logo o que lá vinha dentro!!! Bem que guinchou que já não me assustou!!! Um cão só se apanha desprevenido 1 vez!!! Ah, pois!!!! Tenho-vos a dizer que hoje, passados quase 8 anos, aquela coisa também se transformou numa miúda mesmo gira!! Ter duas miúdas mesmo giras com quem brincar é um espectáculo!!!
Os anos foram passando, uns dias melhores outros piores, como dizem as pessoas! Eu tenho uma família mesmo fixe!!! Eu é que já não estou a 100%! Em Agosto do ano passado comecei a desmaiar. Claro que os meus queridos Ana e Rui levaram-me ao veterinário! Primeiro diagnóstico epilepsia!!! Nã, nã, nã... Disseram a Ana e o Rui, que já andam nisto há muitos anos e a Ana quando nasceu já tinha um cão em casa!!! Lá fui a outro veterinário. Ecocardiograma comigo, e lá está: Deficiência cardíaca!
Desde aí que sou um cão cardíaco! Nada que a Ana não me tivesse avisado ao longo da minha vida! Não quis acreditar, mais valia ter ouvido! - Baltazar, tu com esses nervos todos ainda vais sofrer do coração! - E cá estou eu, a tomar 4 comprimidos diários, de 12 em 12 horas! Volta e meia lá desmaio! Como uma ração especial e tenho alguns cuidados! Já não corro, já não faço grandes passeios!
Estou com retenção de líquidos e por isso tomo diuréticos! Faço xi-xi mil vezes ao dia, vou muitas vezes à rua, mas às vezes não aguento e lá faço na cozinha! A Ana e o Rui compram uns resguardos, eu não gosto de fazer em cima daquilo, mas como eu sou um cão assim para o asseado, faço no chão e depois vou buscar um resguardo e tapo!
Agora eu tenho mesmo a certeza que nunca serei um cão sem abrigo! Apesar de ter causado alguns transtornos quando ficava a uivar, apesar de ser um cão cardíaco que agora sujeita a Ana e o Rui a muitas despesas, apesar de um me descuidar no chão da cozinha, eles não se desfizeram de mim, nem o vão fazer!!!
A veterinária já avisou que a qualquer momento eu me posso "ficar" no meio de um desmaio, que posso piorar subitamente, a minha família não pensa nisso, apenas quer viver comigo o melhor possível e para mim isso apenas significa viver em amor!
E esta é a minha vida!
Um dia destes venho contar-vos alguns episódios engraçados da minha vida!
Lambidelas para todos,
Baltazar (Babos para os amigos)
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