terça-feira, 9 de novembro de 2010

Desafio...


Desafio!
Tenho pensado várias vezes no enorme Desafio que acho que, nos dias de hoje, todos enfrentamos. Não, não é por causa da crise, já vos falei de como esse tema me aborrece. É por causa daquilo que somos, cá dentro, e, com isso, encaixarmo-nos no mundo que temos cá fora.
O Desafio começa logo em sabermos quem somos, o que queremos da nossa vida. O mais fácil é definirmo-nos pelo nosso nome, a nossa idade, pelo nosso estado civil, pela nossa profissão. “Olá, eu sou a Joana, tenho 30 anos, sou divorciada e sou psicóloga”. De vez em quando, dependendo do contexto, lá acrescentamos se temos filhos ou não. A mim isto acontece-me frequentemente, não sei se a vocês também. Em qualquer encontro de grupo, em que seja pedida uma apresentação, lá vamos nós. E um dia dei por mim a pensar: bolas, isto é “muita poucochinho!” E será que estes dados me definem?! Acho que não. Sim, definem em certa medida, mas… Interessa mesmo a nossa idade? E o nosso estado civil? E mesmo a nossa profissão? Não sei, acho que não. Porque acho que, para a grande maioria das pessoas, nada disto as define mesmo, lá dentro.
A idade é a do B.I., ok; mesmo que às vezes nos sintamos mais velhos ou mais novos. Partilho convosco que eu tenho muitas características ditas dos idosos: incomoda-me imenso música alta, seja a que for; não gosto de ambientes com muita gente, muito barulho., muitas luzes; não gosto de me deitar tarde, no dia seguinte fico a sentir-me meio dormente; não gosto de comer muito à noite, tenho dificuldade na digestão,… Com esta descrição, arriscamos quantos anos? 70 aninhos e não se fala mais nisso? Acho que seria por aí! Ou então 18, porque já nesta altura era assim. Ou 30, que é a minha idade! É tudo tão intrínseco a nós, não é? Tenhamos a idade que tivermos!
E depois a profissão, outra daquelas coisas a que todos damos imensa importância. “Gostei de X ou Y, o que é que ela faz?”. Isto sai-me da boca com frequência. Porque é que isso me interessa? Para quase nada, realmente. Se alguém é secretária/o, mas gostava mesmo era se ser bailarina/o, a profissão diz-me alguma coisa sobre a pessoa?
Imaginem que hoje em dia conhecíamos alguém, dávamos as duas beijocas ou o aperto de mão da praxe, e perguntávamos: quais são os teus sonhos? O que é que te faz rir às gargalhadas? O que é que te comove? O que é que mais te custa no mundo?
Era um enorme Desafio! Era um Desafio fazer a pergunta, mas sobretudo saber quais as respostas! Sobretudo assim, de repente. Eu teria dificuldade, como imagino que todos nós. Mas não seriamos mais felizes se nos pensássemos e sentíssemos mais? E se uns com os outros tivéssemos o mesmo movimento? Eu acredito veementemente que sim.
Eu ainda me estou a descobrir. Mas assumir este desconhecimento sobre nós, a nossa vida, a vida dos crescidos, é às vezes tido como imaturo, ou “achónezado”! E creio que há muitos adultos, muitos, mesmo muitos, que também não sabem muitas das coisas importantes, mas que têm vergonha de dizer. Porque já somos crescidos, e os crescidos sabem quase tudo, e… E, sobretudo, quando não sabemos, sentimo-nos sem chão. Eu sinto-me, quando não sei qualquer coisa que me é importante, quando não sei que caminho escolher e como fazê-lo.
Mas embora o desconhecido nos dê um apertozinho no estômago, o não saber também significa abrirem-se portas para infinitas possibilidades, o que é óptimo! Custa assumir que não se sabe, mas depois somos recompensados pelo alívio das várias hipóteses que se nos surgem, e que nos dão um entusiasmo imenso! Porque até nem tínhamos pensado naquele caminho!
E vamos sabendo, à medida que vamos caminhando, e vivendo, e sentindo. Vamos sabendo, se nos dispusermos a pensar nisso, a não viver de forma maquinal e automática; a não viver como se não fossemos nós os condutores e decisores da nossa Vida.
Eu já vou sabendo (com persistência, paciência e perseverança!) de algumas coisas que, cá dentro, bem “dentrinho”, gosto de fazer.
Escrever-vos/nos é uma dessas coisas! IÉÉ!
Joana Pires


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