quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Lutar...

Ontem, simplesmente ontem, numa conversa banal, depois de tantas vezes já ter ouvido e provavelmente utilizado a mesma expressão, as mesmas palavras, o mesmo sentido, é que me fez franca confusão o termo “lutar”, como tantas vezes o utilizamos, e tão orgulhosamente!
Alguns de nós lutam pela Vida; outros lutam pela garantia do Trabalho; outros lutam pela Saúde; pelo Amor; pelos Outros; pelos Valores; …

Alguma coisa não se encaixa nesta forma como tão pacífica e orgulhosamente utilizamos esta expressão. Todos sabemos quando a utilizamos de formas diferentes: um lutador é aquele que luta; ok; lutar é uma coisa “feia” (dizemos nós às nossas crianças); ok; passadas 2 horas estamos-lhes a contar como orgulhosamente Lutámos por qualquer coisa na nossa vida; ok??, e ainda lhes dizemos “luta pelos teus sonhos!”. Não sei se concordam, mas para mim há qualquer coisa aqui de profundamente incongruente.

Porque é que temos de Lutar por estas coisas todas? Porque é que foi esta a expressão, algures no tempo e por alguém, escolhida para coisas tão cruciais na nossa vida?
(Partilho convosco um velho hábito. Quando me assola uma dúvida deste ou de outros géneros, recorro ao Dicionário da Língua Portuguesa - assumo que senhores que escreveram tantas palavras juntas, são muito sabedores!)
- Lutar: travar luta; combater; esforçar-se.

Não faz muito sentido, pois não?

E isto leva-me a pensar na quantidade de outras palavras (intimamente relacionadas com a forma como nos pensamos a nós e ao mundo!) que utilizamos, com esta força tão… No mínimo, desgastante!

Porque é que não dizemos que queremos viver e nos entregamos à vida? Em vez de Lutarmos pela Vida?
Porque não dizemos que nos dedicamos alegremente ao trabalho? Em vez de Lutarmos pelo Trabalho?  
Porque não dizemos que queremos atingir a nossa saúde, e por isso vamos fazer X, Y e Z? Em vez de Lutarmos pela Saúde?
Por que não dizemos e decidimos que queremos diariamente experienciar o Amor? Em vez de Lutarmos pelo Amor?
Por que não decidimos exercitar, praticar diariamente os nossos valores? Em vez de Lutarmos pelos Valores?

Temos mesmo de Lutar por tudo isto?!

Até os Sonhos! Como é possível lutarmos por sonhos? Pelos nossos? Que nascem em nós e que são “nossos”, por direito Divino, moral, …? Como?
Sobretudo, a perspectiva de que a vida tem muita “luta”, ou dá muita “luta”, ou exige muita “luta”, é-me altamente cansativa.

Escolho pensar e sentir de outra forma, não é esta a realidade que sinto fazer sentido para mim.

Tenho uma Vida repleta de pequenas coisas, que agradeço constantemente.
Tenho um Trabalho para o qual vou com Alegria, fazendo o Melhor que sei.
Tenho uma Saúde que prezo em manter.
Alimento o Amor em Mim, por Mim e pelos Outros.
Experiencio e pratico diariamente os Valores em que acredito.

Escolho não Lutar pelo Amor: Experiencio e Agradeço o Amor.
Escolho não Lutar pela Saúde: Cuido-me da forma mais saudável que consigo e Agradeço a minha Saúde.
Escolho em não Lutar pela Paz: Pratico a Paz em mim e com os que me rodeiam.

Se todos fizéssemos isto e deixássemos de lutar; se nos mantivéssemos a Ser, a Fazer, a Experienciar;

Seria muito menos cansativo, não acham? Menos cansativo e muito mais produtivo, tenho esta séria convicção!

Desde o dia de ontem, ouvir esta expressão “abanica” os meus sentidos. O hábito de falar sem pensar, ou de utilizar expressões sem as questionar, também mora em mim. Mas a partir do momento em que se pensa em qualquer coisa e há movimento para a mudança, a mudança já se está a instalar. Já se instalou em mim. Agora é continuar a caminhar, o mais descansadamente possível!


Joana Pires


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