quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Os T.P.C's

Várias vezes me tenho deparado com a questão dos trabalhos de casa dos miúdos. Chamo-lhe “questão” porque a considero mesmo como tal!
Primeiro que tudo, as crianças são crianças; depois são filhas; depois irmãs; netas;… Isto para dizer que, na minha opinião, há muitas coisas (entre as quais as referidas) absolutamente basilares, essenciais, na vida das crianças, sem as quais elas deixam se Ser, sem as quais o seu crescimento fica verdadeiramente comprometido. Acredito profundamente nisto.
Aprenderem a ler e escrever é importante? Claro! A todo o custo? Não! A muito custo? Também não. Com algum custo? Sim, dependendendo do custo.
Tenho assistido a uma exigência cada vez maior para com as crianças: os professores acham logo que uma criança tem atraso se não acompanha o ritmo dos outros (em vez de colocar a hipótese de poder ser uma criança mais enérgica, com maior aptidão para a dança ou o futebol, em vez de para os livros), os pais temem que os filhos não acompanhem o ritmo dos outros, fiquem para trás, não vençam na vida; as conversas dos adultos rondam sempre “então, tiveste boas notas?”, o que é absolutamente entediante!
(Lembro-me, em miúda, de achar estas perguntas desprovidas de sentido, sinceramente; alguém que eu não conhecia, amigo do pai ou da mãe, queria saber das minhas notas, em vez de querer saber sobre as brincadeiras giras que eu fazia, que inventava, que gostava… Acredito que hoje em dia os miúdos ainda sintam o mesmo!)
Os pais das crianças que estão na escola, sobretudo do primeiro ciclo, têm um enorme desafio: o de tentarem o equilíbrio entre as aquisições escolares e a não perda da qualidade familiar e da saúde mental dos seus filhos! Isto é verdade, de facto. Se os professores mandam muitos trabalhos e os pais acham demasiados, questionem-nos; se responderem que os vossos filhos precisam, perguntem exactamente porquê: demora mais tempo que os outros? quanto mais tempo? em todos os trabalhos? que matérias é que o/a interessam? no que é que ele/ela é mesmo bom a fazer, o que é que gosta mesmo de fazer na sala de aula?
A esta última questão, os professores têm de saber responder! Vocês conhecem os vossos filhos: alguns são rapidíssimos a decorar as músicas do Panda; outros a sabem de cor as histórias que têm em casa; outros têm uma enorme rapidez de raciocínio em várias circunstâncias. Uma cabeça esperta é sempre uma cabeça esperta! A cabeça não se altera com o contexto! E as crianças são todas diferentes, e consciencializemo-nos de que essa é a enorme mais-valia da nossa Humanidade!
Todos temos o desafio de nos conseguirmos integrar sem que tenhamos de nos formatar! Percebem o que digo? Este desafio é enorme! Mas relativamente às nossas crianças, a nossa obrigação é ainda maior. Devemos dar-lhes o espaço de se exprimirem como são. Uma criança que sinta aptidão para ser bailarina não vai ter o mesmo interesse por livros do que uma que adora saber sobre rochas ou animais; uma criança que queira ser cantora, não tem o mesmo comportamento do que uma que quer ser pintora! “Ah, eles ainda são novos para saber!” Não são, de todo. É nesta fase que eles sentem com maior nitidez e pureza o que gostam, sem equacionarem notas, e médias, e desemprego! Por isso é nesta fase que os devemos deixar Ser, descobrirem-se, mantendo a entrega de amor que temos por eles. É com Amor que eles crescem e se desenvolvem; o resto, são pormenores, que nos cabe a nós, adultos, lhes darmos a importância (grande ou pequena) que sentimos que tem para o nosso filho/a. Os professores têm a sua opinião, mas que apenas vale isso. Este ano é um professor, noutro ciclo são outros; mas os filhos são nossos, sempre, e é a nós que nos cabe equilibrarmos o nível de esforço que eles estão a ter, venham quantos professores vierem dizer que assim é que devia ser! Discordarmos de um professor não faz de nós, necessariamente, protectores irracionais das nossas crias! De todo! Já lá vai o tempo em que não se questionavam professores. Quando discordamos e temos dados concretos sobre a nossa discórdia, temos de ter a coragem de defendermos a nossa opinião. Sobretudo, de defendermos os nosso filhos! É também para isso que somos seus pais!

Joana Pires

Sem comentários:

Enviar um comentário