As regras e as rotinas: duas das muitas vertentes do amor!
Tem-se falado muito em regras (os psicólogos gostam muito de falar disto!). Há pais que não concordam muito com elas, ainda com marcas profundas da educação repressora dos seus pais; há outros que as acham fundamentais; há outros que não ligam nem pensam muito no assunto; haverá outros que pensam outras coisas quaisquer.
Não sei como é quem me lê, mas dou-lhe a minha opinião e partilho os meus pensamentos.
Primeiro que tudo, muitas vezes se confunde regra com rotina. A confusão é plausível, mas convém realçar que são coisas diferentes. Regra está relacionada com disciplina, regulação, método. Rotina está relacionada com a estabilidade dos acontecimentos diários, quotidianos.
Cada um de nós tem os seus valores pessoais, morais, éticos, humanos, teóricos, etc. Estabelecemos as nossas regras de acordo com isso: numa família pode ser regra rezar antes da refeição; noutra pode ser regra descalçarem-se assim que chegam a casa; noutra pode ser regra não se comer carne; noutra… São inúmeras as regras que cada família tem, sejam elas pensadas ou não. Sejam que regras forem, a verdadeira importância, para as crianças, está na sua consistência, na sua constância. Ou seja, o que é regra hoje é também amanhã, ou daqui a 15 dias. Pode não se repetir todos os dias (não se vai ao supermercado todos os dias, por exemplo, mas a criança sabe que quando vai faz parte das regras não passar à frente de ninguém na fila, por exemplo).
As rotinas também variam em cada pessoa, em cada dinâmica familiar. Umas crianças tomam banho de manhã, outras à noite; umas comem sopa todos os dias, outras só de vez em quando; umas deitam-se às 21, outras às 22, … Seja como for, as rotinas são estabelecidas de acordo com o quotidiano e a forma de viver dos pais, as suas crenças, a sua disponibilidade, a sua forma de viver. Estas rotinas passarão a ser as rotinas das crianças.
Tanto umas como outras, são de uma importância enorme para as crianças, porque é a forma de elas sentirem o seu mundo seguro.
Façamos o exercício de nos pormos nos sapatinhos delas. Elas, que crescem a uma velocidade imensa, que têm o enorme desafio de lidarem com o seu crescimento e encaixarem-se neste mundo, se não tiverem esta estabilidade, o mundo fica a ser verdadeiramente ameaçador para elas! Mesmo! Porque nunca sabem o que esperar, como esperar, de quem esperar. É como se cada dia fosse um sobressalto, mesmo que sejam feitas coisas à partida “divertidas”.
A constância das regras e das rotinas fá-las sentir que o mundo é um lugar seguro, que há coisas que se mantém, que os adultos, sobretudo os pais, são uns valentes que tomam conta delas; porque quem põe limites e diz para onde é que elas devem/podem ir e em que momentos, demonstra que está atento, que toma conta delas, que as protege.
Naturalmente, as regras e as rotinas vão mudando, e é desejável que assim seja: adaptam-se ao próprio crescimento das crianças, às eventuais mudanças de vida e gostos dos pais, a circunstâncias variadas… Mas mesmo que mudem, é importante que existam sempre, com estabilidade. Estabelecê-las é uma forma de Amor, enorme. Porque nem sempre é fácil, nem sempre nos apetece, nem sempre facilita a nossa liberdade de “movimento”. Mas faz parte do Amor, creio-o mesmo.
Não é verdade que a nós nos orienta sabermos quais são as regras do nosso local de trabalho? E da circulação dos carros? E da nossa família? E não nos tranquiliza sabermos que àquela hora vamos entrar no trabalho, ou sair, e vamos fazer isto e aquilo, e vamos encontrar esta e aquela pessoa?
Às crianças também, mas em muito maior dimensão! À dimensão delas!
Joana Pires
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