terça-feira, 29 de maio de 2012

SAUDADE!


Traz-me aqui este sentimento que me interrompe o quotidiano várias vezes. Vem de mansinho, a espreitar. Por não lhe prestar atenção, começa a entrar-me nos espaços onde me movimento. Não sendo ainda suficiente, traz-me memórias de odores, sabores, toques, imagens, tão vívidas como se estivessem mesmo no meu toque, no meu paladar, no meu olfacto. Nesse momento, presto-lhe mais atenção, a ela, à saudade: o que estou a ouvir já não é só do momento presente, já me traz vozes do passado; os cheiros levam-me a outros espaços; o que sinto transporta-me para outros momentos do meu sentir.

Esta saudade de que vos falo também é a saudade do que já passou. Não é uma saudade de querer que o que passou volte; não, vivo confortável no tempo e na vida em que me encontro. É uma saudade de sentir o Ser de união que somos em alguns momentos.

Momentos que despertaram o doce cantinho do aconchego; a coerência absolutíssima do momento, dos actos, das pessoas, de tudo o que somos e sentimos naquele momento. Percebem? Saudade não daqueles momentos, mas do sentimento daqueles momentos, que nos inspira a verdade da vida, que nos enche do sentimento fantástico de dádiva, de gratidão, da mais pura e simples tranquilidade. Diria que é o sentimento de Amor, na sua expressão mais transparente.

Quando me nasceu o meu filho; quando chorei a rir em tantas e tantas situações; quando alguém me disse “gosto tanto de ti” de olhos cheios de gostar; quando me deitei com a tranquilidade de confiar em absoluto no fluir da vida; quando passei os olhos à minha volta e eu sentia que tudo estava exatamente como e onde deveria estar; quando toda a minha existência estava completamente alinhada com aquilo que tinha de mais certo e tranquilo para mim.

É isto tudo, mas é também a saudade do que projecto para a frente. Não faz sentido no nosso português, porque saudade é referente ao passado. Mas ninguém explicou esta regra ao meu Ser, e ele sente saudade do que ainda não chegou, mas que já projectou.

Tenho saudades de estar mais vezes com quem vou estar daqui a uns dias; tenho saudades das pessoas que chegarei a conhecer, mas que por voltas da vida deixarei de ter contacto; da viagem que farei e das gentes que lá conhecerei, mas cuja distância dos países impedirá os abraços frequentes.

E neste abraço das saudades do que já passou e do que está ainda por se passar, fica a necessidade de me concentrar nos cheiros de agora, e nos risos, e nos toques, e nas cores. Para que usufrua do meu sentir de AGORA. E para que estes momentos, os de exactamente AGORA, não venham a ser momentos de saudade, e sim de pura recordação!  (tenho essa esperança…)


Joana Pires, Abril 2012



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