terça-feira, 17 de julho de 2012

Quando o medo se atravessa!


Era uma vez um barco,
Que andava a navegar.

Peço-te muita atenção
A esta história que te quero contar.

Ele tinha saido de casa
Como todos os dias fazia.
Foi pelo mesmo caminho,
Cruzou-se com o mesmo vizinho,
Mas o que estava para acontecer...
Isso ele não sabia
Nem nada o fazia prever!

Encontrou uma onda gigante,
Muito maior do que um elefante!
E ele pôs-se a gritar
Para ver se alguém o vinha ajudar!

“Ajudem-me”, gritou o barco.
“Ajudem-me”, voltou a gritar.
“É uma onda gigante,
Acho que me vou afogar!”.

E então ouviu uma voz,
Tão fininha como um palito.
Parecia estar mesmo ali,
E ele que estava tão aflito!

“Estás com medo?
Medo do quê?
És tão grande e valente
Que enfrentas toda a gente!”

O barco não sabia quem tinha falado
Por isso nem se atreveu a responder.
Era melhor ficar calado,
Sabia lá o que podia acontecer!

Mas de novo ouviu a tal voz,
Desta vez ainda mais alto.

“Ó tu, não me ouves?
Será que vou ter de gritar?
Olha que se eu grito
Os teus ouvidos ficam a abanar!”

O barco, apesar de aflito
Decidiu então responder.
“Sim, estou com medo.
Há alguma coisa que possas fazer?”

“Ainda bem que tens língua,
Assim podemos falar.
Nem sabes a tua sorte
Em não me ouvires gritar!”

O barco não sabia quem falava
Por isso resolveu perguntar.
“Mas quem és tu, que não te vejo?
Estás perdida no mar?”

“Não, não estou perdida”
E desatou-se logo a rir.
“Sou a onda que te assusta,
É de mim que estás a fugir!”

O barco ficou com medo
E tentou ir-se embora.
Mas não o conseguiu fazer
E só pensava “E agora?”

“Não tenhas medo,
Estou aqui para te ajudar.
Lembra-te que vivemos na mesma casa:
E essa casa é o mar!”

O barco não respondeu,
Não sabia o que dizer.
A verdade verdadinha
É que não podia escolher!

Não podia sair dali,
Não conseguia voltar para trás.
Tinha de ouvir a onda
E ver se era capaz!

“Mas... O que me queres dizer?
Não consigo sair daqui!
É que eu... é que eu...
Estou cheio de medo de ti!”

“Não, não fiques assim.
A sério que te vou ajudar.
Não podes ter medo de ondas,
Senão como vais navegar?”

“Já andei por muitos lugares,
Todos têm medo de mim.
Sou grande, eu sei disso
E não é fácil viver assim”

O barco ouvia a onda
E até já estava a gostar dela.
Parecia-lhe ser tão sincera,
Que ele começava a acreditar
Que seria mesmo ela
Que o iria salvar!

Então perguntou à onda:
“Se não queres que tenham medo
Porque apareces de repente?
É que assim é óbvio
Que assustas toda a gente”.

“Não tenho culpa,
Nasci assim.
Mas sei que por ser grande
Ninguém gosta de mim!”

O barco ficou com pena.
A onda parecia-lhe triste.
“Olha, ensina-me a não ter medo,
Não fiques assim, ouviste?”

A onda ficou contente,
Já podiam conversar.
Não queria que tivessem medo,
Só queria ajudar.

Então explicou ao barco
Que ele era grande e valente.
Que não tinha de ter medo,
Como tinha toda a gente.

“Quando eu passar por ti,
Só tens de ficar sossegado
E deixares-te levar.
O máximo que te acontece
É ficares todo molhado!
E depois teres de te secar”

O barco aceitou
E espero que a onda passasse.
Fechou bem os olhinhos
E quis que ela não demorasse.

De repente
“Splash, splash”
A onda já tinha passado.
Não tinha acontecido nada,
Para além de ficar molhado.

“Ah, afinal já passaste!
E eu estou bem, estou inteiro!
Ai meu deus, que tontice,
Acho que fui um fiteiro!”

A onda riu-se, contente,
Já não via o barco assustado.
Ficava tão engraçado,
Assim todo molhado!

“Gostava de ser teu amigo,
Desculpa ter tido medo.
Já que somos vizinhos,
E moramos no mesmo mar,
Achas que um dia destes
Podemos ir passear?”

E ficaram então amigos,
A onda gigante e o barco valente.
A verdade, verdadinha é que o desconhecido
Mete medo a toda a gente!

Joana Pires
 (em várias alturas da vida, quando o medo se atravessa!)



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